SQ#04: GPTerapia
Rebelde Mirim
Desde que me conheço por gente, fui rebelde. Alguns achavam que eu tinha hiperatividade, talvez um TDAH. Minha mãe combateu isso e nunca me medicou. Sorte minha. Coitados dos meus professores talvez.
TDAH não fazia sentido, porque embora eu fosse problemático com comportamento na sala de aula, minhas notas eram muito boas. O fato é que eu só prestava atenção naquilo que me chamava a atenção e naquilo que eu conseguia, no alto da maturidade de um menino de pouco mais de 10 anos, achar útil. Já a hiperatividade acho que faz sentido.
Certa vez eu fiz um mapa astral (não me julguem, é bem interessante!), e a astróloga me disse um ponto sobre minha rebeldia: "você, se não acreditar no que te for proposto, você dificilmente conseguirá fazer". O resultado do mapa foi bem completo, é bem condizente comigo e fez bastante sentido para eu me entender melhor. Recomendo fazer em algum momento da sua vida. Experimente coisas novas!
Voltando à sala de aula…eu não acreditava (não acredito até hoje) no modelo de escola primária e fundamental. Ainda mais nos dias de hoje em que há tamanha quantidade de informações disponíveis, não vejo sentido no modelo, que é o mesmo desde 1900: professor passa conhecimento de forma unidirecional, alunos ficam passivos “absorvendo” aquilo, num ambiente com lousa e giz - e trancados numa sala. Imagina um hiperativo ai.
Eu aprendia o que queria em alguns minutos, ou entendia que seria mais fácil aprender sozinho com o livro depois, e dai o menino rebelde entrava em ação. Meus pais eram chamados com freqüência para falar sobre minha (falta de) disciplina em sala de aula. Acho que eu já questionava o Status Quo. Como eu, hiperativo, que preciso de movimento, espaço, ficaria por muitas horas sentado em uma carteira numa sala de aula, preso, aprendendo sobre rochas metamórficas em geografia? Não foi fácil. Pra ninguém (para mim, meus pais, professores).
Rebelde Profissional
Fast forward para meu começo de carreira profissional. Eu fui selecionado para ser um dos Trainees do Itaú na turma de 2008. Éramos em 30 profissionais, viramos amigos e nos falamos até hoje - inclusive sobre o fato que vou contar a seguir.
Em um dos inúmeros treinamentos a que éramos submetidos, chamaram uma consultoria externa para falar sobre liderança, desenvolvimento de carreira em geral. A parte mais legal destes treinamentos é que nós tínhamos uma “licença poética” para não trabalhar nestes dias e era bem divertido.
Em uma das dinâmicas, o consultor mostrou uma pesquisa que dizia que crianças que sabiam responder à pergunta “o que você quer ser quando crescer?" tiveram mais sucesso em suas carreiras e vida posteriormente - porque sabiam onde queriam chegar.
Pois bem. Pediram pra gente fazer este exercício de visão de longo prazo, porque já éramos crescidos o suficiente. “Onde você vai estar daqui 1 ano, daqui 2 anos, daqui 5 anos, daqui 10 anos e…?". O menino rebelde que habita(va) em mim saltou e disse (de uma forma mais educada que isso, claro): “Isso não faz o menor sentido. Você quer que eu descreva cargos como meus colegas estão fazendo? Em um ano viro analista senior, em 2 eu viro coordenador, em 5 sou gerente, depois superintendente… e um dia eu seria o Setubal". Não fiz o exercício. Eu mal sabia o que faria no próximo ano, quiçá soubesse algo dali em diante. A única certeza que tinha é que, se eu fizesse o plano, ele “não funcionaria”. Então, concluí que não valia a pena usar meu tempo daquela maneira. Não daquele jeito, pelo menos. Um rebelde. Até hoje comentamos desse momento, e eu brinco: “e ai, estão seguindo o plano lá de 15 anos atrás? Como estão vs plano?".
Nas entrevistas que fiz durante minhas passagens profissionais eu sempre fazia essa pergunta só para ver se a pessoa era rebelde ou ficaria recitando descrições hierárquicas de cargos no seu desenvolvimento de carreira. Contratava os rebeldes (talvez fosse ruim para a empresa, não sei).
A busca pela Intersecção
Além da minha teimosia (eu reconheço), eu sei e acredito mesmo que ter um norte é importante e necessário para nossa vida. O caminho para levar até esse norte é que eu sou mais descrente sobre como vai ser. Porque é impossível acertar. A vida é cheia de aleatoriedade, não temos controle sobre muitas coisas. Ou seremos igual aos caras da Faria Lima ou Wall Street, que acreditam saber como prever o futuro, só que nas nossas resoluções de ano novo.
Isso tudo para dizer o quanto já questionei muitas coisas, desde sempre. E, como cada um tem seu caminho, este foi e é o meu. Sigo, portanto, incessantemente, na busca pelo meu norte: uma vida com mais propósito, em busca da interseção entre o meu eu (essência, natureza) com minhas atividades profissionais. Não quero mais aceitar ficar sentado na frente do computador por 12h por dia, todos os dias da semana, fazendo muitas vezes coisas que não acredito e nem concordo - e lidando com pessoas com as quais nem sempre vale a pena gastar o tempo (veja a última newsletter sobre o uso do nosso tempo). Não quero mais gastar energia para atuar como um personagem profissional distante da minha essência e depois tirar essa fantasia antes de sair do escritório e chegar em casa como o Marcel “normal". Isso tudo drenou minha energia por anos. Sim, precisei. Ainda precisarei, eventualmente.
Farei de tudo para buscar esse caminho do meio entre viver a vida que quero ao mesmo tempo que faço algo que gere rendimento financeiro para viver nesse mundo nosso.
Essa semana, enquanto estava indo viajar para fazer meus trabalhos com a Limbic (pensa numa pessoa feliz indo fazer uma coisa que gosta e sendo remunerado por isso!), fiquei ouvindo alguns podcasts e TED Talks nessa linha - que é o que mais tenho feito em termos de conteúdo e conhecimento ultimamente.
Recomendo muito este aqui do Bill Burnett, um professor e diretor executivo de Stanford. Já comprei, inclusive, o livro dele chamado Designing Your Life: How to Build a Well-Lived, Joyful Life. Se você já leu, me conta o que achou.
Em resumo, o que essa palestra do Bill trouxe foi que o Design Thinking (DT), além de ser utilizado para desenvolvimento de produtos, pode ser uma ferramenta útil para:
ajudar as pessoas a superar crenças disfuncionais ou limitantes que podem mantê-las presas na vida, e
para projetar uma vida mais significativa e satisfatória.
Alguns dos pontos-chave e aprendizados da palestra:
Crenças disfuncionais, como a crença de que você precisa ter uma paixão ou que já deveria saber para onde está indo na vida, podem ser contraproducentes e devem ser deixadas de lado.
Ele explica como o Design Thinking funciona para o design da vida: conectar os pontos (que é a intersecção!), reformular problemas, considerar múltiplas versões de si mesmo, prototipar suas ideias e fazer escolhas melhores.
Ele dá dicas de exercícios para criar múltiplas versões de si mesmo e prototipar conversas e experiências.
E diz que fazer escolhas melhores envolve usar tanto o julgamento racional quanto a intuição para escolher e deixar de lado o FOMO (fear of missing out, ou medo de perder algo) e a ideia de que as decisões são irreversíveis.
Para mim, fez muito sentido. Quero entender mais no detalhe este processo agora, e por isso vou estudar o livro dele.
Há quem prefira o conceito japonês Ikigai, que se refere aos 4 elementos (e sua intersecção) que trariam sentido de propósito e significado na vida.
Acho que é isso que deveria ser nossa prioridade número um, esta procura pelo norte, "o que queremos ser quando crescer" - buscando essa intersecção.
Pra isso, precisamos de alguns elementos, na minha visão:
se conhecer cada vez mais (terapia e auto reflexão!) - e aqui uma dica: procure elementos na criança que você foi lá atrás.
experimentar coisas novas (para descobrir suas paixões e o que te move) - e, em geral, vai se conectar com a sua criança também
planejamento para executar isso em direção ao seu norte encontrado
coragem para tomar decisões difíceis e seguir o que você acredita
Como encontrar nossa intersecção então?
Pensando em maneiras de como resolver isso (além de terapia e muita experimentação, como a criação desta newsletter, por exemplo), comecei a “trocar umas ideias” com o chatGPT (inteligência artificial) recentemente.
Para ser didático: este modelos de IA funcionam basicamente com inputs, ou prompts, em que você orienta o caminho para a resposta daquilo que precisa. Em suma, como você faz uma pergunta de forma correta para ter a melhor resposta possível.
Comecei a fazer uns ensaios e desenvolvi um prompt que gerou resultados interessantes e curiosos, como estes abaixo:
Eu achei fantástico. Testei com algumas pessoas e ficaram surpresas, no mínimo com a capacidade do chatGPT em interpretar as coisas e prover estas respostas.
Gambiarra
Como eu adoro uma gambiarra (quem já trabalhou comigo sabe!), criei um troço que mistura o forms do Google, Excel (sempre!) e um pouco de automação, em que você responde (i) 10 perguntas simples sobre você, um (ii) prompt é gerado com estas informações, e depois você (iii) alimenta o chatGPT com isso e recebe (iv) retornos como os que mostrei acima. Automatizei todos os paranauês, e se você quiser experimentar, segue o link aqui.
Claramente não há a pretensão aqui de isso ser um oráculo, mas eventualmente com algumas iterações, isso pode te trazer alguma ideia ou reflexão. Vai ser, no mínimo, curioso.
Me conta qual foi seu resultado depois!! Pra mim foi bem legal. Quanto mais específico e detalhado nas respostas do formulário, maiores as chances de resultados interessantes vindo da IA.
As instruções são simples e estarão no e-mail que você recebe juntamente com o Prompt, mas basicamente é o seguinte:
Você responde às 10 perguntas
Pega o prompt gerado e enviado para o seu e-mail
Copia e cola no chatGPT e a "mágica" acontece
Boa GPTerapia pra você!
E siga buscando sua intersecção com inteligência humana, não seja artificial.
Por hoje é só!
Marcel - Status Quê?