SQ#05: Segunda é o melhor dia da semana!
Domingo à noite. O fim de semana está se despedindo e uma sensação de inquietação e angústia começa a tomar conta. O peso da semana que se aproxima se instala em seus ombros, e você se pergunta por que essa rotina lhe causa tanta ansiedade e desconforto. Será que é possível sentir-se mais tranquilo e em paz nesses momentos? Você não está sozinho nessa busca.
Uma vez vi uma frase assim:
"Segunda-feira é o melhor dia da semana! Porque é o dia mais longe da próxima segunda"! 😂
Bora falar sobre isso!
Curiosidade e Propósito
Você também destruía e abria os seus brinquedos para ver o que tinha dentro quando criança? Eu sim. Contei isso para um terapeuta uma vez e ele me provocou: você faz isso com sua vida também, né? Sim. Tento abrir várias coisas e desvendar os seus mistérios, e nem sempre sei remontar tudo de novo para voltar ao estado original, assim como meus brinquedos.
Curiosidade tem um preço. E um prêmio também. Estudei estatística e sigo curioso nessa tentativa de “tanto bate até que fura”. Só vou me encontrar comigo mesmo e meu propósito se eu continuar procurando, testando abrir alguns "brinquedos”. As chances estatísticas de sucesso estarão ao meu favor se eu aumentar o número de tentativas. Ou senão a mediocridade será o destino óbvio. Alguns amigos dizem: você tem coragem de fazer muitas coisas que as pessoas gostariam. Talvez. Eu só não quero passar por esta vida sem ter tentado várias coisas. Não quero me arrepender de não ter tentado.
Arrependimento e a Finitude do Tempo:
Como já escrevi algumas vezes aqui, eu sou muito ligado na questão da finitude do tempo, e como extrair o maior valor nesta jornada que temos aqui.
Comecei a pesquisar um pouco mais sobre arrependimento. Encontrei o conteúdo de uma enfermeira chamada Bronnie Ware que cuidava de pacientes terminais em suas últimas semanas de vida. Em seu blog e livro, ela observou e relatou os cinco arrependimentos mais comuns destes pacientes:
Queria ter aproveitado a vida do meu jeito e não da forma que os outros queriam: Ao perceber que a vida chegou ao fim, muitos lamentam não ter vivido segundo seus próprios sonhos e desejos. A saúde traz liberdade que poucos valorizam até perdê-la.
Queria não ter trabalhado tanto: Esse desejo era comum, principalmente entre os homens (pacientes idosos cuja geração era predominantemente de mais homens trabalhando do que mulheres). Muitos sentem falta de ter visto as crianças crescendo ou da companhia do(a) parceiro(a).
Queria ter falado mais sobre meus sentimentos: Muitos suprimem seus sentimentos para viver em paz com os outros, gerando rancor e ressentimento internamente.
Não queria ter perdido contato com meus amigos: Todos sentem falta dos amigos ao enfrentar a morte. As amizades devem ser nutridas ao longo da vida.
Queria ter me permitido ser feliz: Muitos percebem no fim que a felicidade é uma escolha. O medo de mudar os impediu muitas vezes de desfrutar de momentos alegres.
Neste artigo que escrevi recentemente, falo sobre o tempo que gastamos com outras pessoas nas nossas vidas. Vale ler depois.
Um causo:
Certa vez, em uma empresa em que estive, fizemos um exercício com a alta liderança sobre vulnerabilidade. Éramos cerca de 20 profissionais e nosso objetivo era nos alinharmos melhor, nos conectar mais através da vulnerabilidade, para sermos um time mais coeso e, de forma exemplar, cascatear isso para todos os times abaixo. O único ponto para mim é que a vulnerabilidade é uma consequência da conexão entre as pessoas, e não o contrário. Mas enfim… isso é papo para outra hora.
Em um dos exercícios, tivemos que montar, individualmente, um painel chamado Roda da Vida, em que tínhamos que colocar alguns pontos sobre nós: hobbies, medos, arrependimentos, sonhos.
O aspecto mais intrigante para mim foi a questão dos arrependimentos. Depois de ouvir as histórias de meus colegas, fiquei refletindo por vários dias. Percebi que a maioria dessas histórias estava relacionada à percepção do tempo (escasso) e às oportunidades perdidas. Surpreendentemente, a maioria desses arrependimentos ainda poderia ser revertida. Sim, ainda havia tempo para realizar as coisas que lamentavam não ter feito. No entanto, as pessoas pareciam estar presas em uma barreira mental (que eu não consegui ainda compreender completamente), levando-as a acreditar que não tinham mais a chance de fazer diferente.
Estavam presos em algum tipo de status, ego, ou pior: aquela promessa (prisão) de ganho futuro indefinida que as stock options fazem com as pessoas. Pra quê?
Acho que optaram por continuar se arrependendo por alguns anos até que um valuation maior (que sempre vai ser ano que vem) chegue. Opção de cada um. E tá tudo bem. Mas o dinheiro “ali da frente” não vai comprar o tempo “aqui de trás”.
Seja lá o que for, ainda há arrependimentos que são reversíveis. Pense sobre isso.
Procrastinação e Porque Precisamos de Prazos Definidos:
Entender nossos arrependimentos é importante, mas o que nos impede de tomar decisões em direção à vida que gostaríamos de viver? A procrastinação é uma resposta importante.
Todos somos procrastinadores, uns mais outros menos. Aliás, considere assistir a este TED Talk aqui sobre isso. Vale a pena!
“Ah, mas eu não me considero procrastinador”. Ok, então me diga se este gráfico abaixo faz sentido para você. Substitua qualquer tarefa com prazo definido por: estudar para a prova, fazer o seu imposto de renda (aliás, falta menos de um mês e você nem começou ainda), etc.
O que acontece é que só tomamos uma ação quando temos um hard deadline mesmo. Algo que possa ter consequências para sua reputação, algum impacto na sua vida. Dai você vira a noite estudando para passar na prova.
No entanto, quando pensamos em ações para ir em direção ao que acreditamos ser a nossa essência, aquilo que gostamos, a transformação para quem queremos ser, não há prazos claros estabelecidos. “Amanhã eu começo a pensar sobre isso, amanhã eu vou estudar aquilo, amanhã eu começo a aplicar para aquela vaga, amanhã eu começo a academia, amanhã eu procuro uma terapia para trabalhar minhas questões, amanhã eu dou mais atenção para minha família, amanhã eu ainda vou fazer algo que deixe minha vida com mais significado”. O problema é que amanhã será um “hoje” novamente, e sempre haverá infinitos (na verdade é o que pensamos) "amanhãs".
Este gráfico abaixo é o número de semanas que temos em uma vida com 90 anos. Você já usou várias destas semanas. Quando olhadas nesta perspectiva, não parecem muitas, não é mesmo? E, além disso, você não sabe se chegará aos 90 anos também.
Vale a pena conferir o site/blog do WaitbutWhy onde há estas análises relacionadas às maneiras de percebermos o quanto o tempo é finito e escasso.
Domingos:
Quantos domingos ansiosos e receosos pela semana que vai começar ainda serão necessários para você perceber que precisa mudar algumas rotas? Não é só com você isso: uma pesquisa americana da Axios feita pelo Linkedin e Headspace diz que 75% das pessoas passam por “Sunday scaries” (como nomeiam este sentimento ruim aos domingos). Não é a toa que o #sextou é uma gíria que virou mantra de todo final da semana. Será que deveríamos viver para que o final de semana chegue? E os 5 dias da semana, o que fazer com isso?
Uma colega de trabalho me disse um dia, após voltar das férias:
“eu só trabalho para chegar as próximas férias”.
Outro amigo me disse uma outra vez:
“trabalhar é tipo servir o exército, você tem que ir lá e fazer, sem questionar, faz parte da vida”.
Que tristeza isso. Imagina gastar todas aquelas semanas que ainda te sobram com um serviço obrigatório - que você mesmo se obrigou. Escolhas suas ou da sociedade? Dos seus pais talvez?
Bora mudar então. Mas por onde começar? Dá medo, claro. O desconhecido causa medo. Natural. Mas uma coisa que não tem sentido para mim é o boicote que fazemos a nós mesmos com frequência: “Não vou nem tentar isso porque se der errado eu vou me sentir bem mal e com vergonha”.
Melhor evitar alguma possibilidade de ser feliz pra já garantir não ser infeliz e se frustrar, e/ou desapontar alguém ou a sociedade? E você tá feliz assim hoje? Não está frustrado? Repense.
Desconforto é o preço de uma vida com sentido.
Positividade Tóxica e a Busca pelo Pertencimento:
Mas daí, se não fazemos nada e ficamos procrastinando a tomada de decisões importantes, a gente arruma um jeito neurolinguístico de tornar tudo melhor: nós nos convencemos de que gostamos muito do que fazemos (pelo menos nesta rede social aqui) escrevendo e falando em alto e bom som para acreditarmos em nós mesmos: “eu amo o que eu faço, amo minha empresa e sou muito bem sucedido." Viva!
O ser humano vive em tribos desde sempre, somos um animal social. E precisamos nos conectar com tribos por pertencimento - é uma necessidade nossa. E as empresas sacaram essa parada e criaram suas tribos recheadas de crenças, dogmas e rituais.
Quantos amigos e colegas de trabalho usam esta rede social para recitar mantras (chamam de "valores") das empresas em que trabalham. Eles pertencem a esta tribo. Talvez muita gente não admire nem a empresa, nem a tribo da qual fazem parte… mas como é bom fazer parte de uma tribo socialmente venerada, uma tribo em que muitos gostariam de pertencer, não é mesmo? "Muitos gostariam de estar no seu lugar"! O ego agradece!
No fim das contas, muitas vezes fazemos mais pelos outros do que para nós mesmos.
Seres Inacabados e a Constante Evolução:
Pense em você e seus desejos de 10 anos atrás. Provavelmente, eles mudaram bastante, não é mesmo? Essa mudança ocorreu de forma aleatória ou você construiu seu próprio caminho?
Somos seres em constante processo de desenvolvimento (work in progress), mas frequentemente temos a sensação de que já estamos prontos e que tudo será linear daqui em diante. Então, por que acreditar que, daqui a 10 anos, você será a mesma pessoa, apenas com mais cabelos brancos e as mesmas ideias de hoje?
As coisas vão mudar e você talvez nem tenha capacidade de prever exatamente. Mas você pode planejar e buscar uma direção.
Não olhe para trás e se arrependa de não ter começado antes. Mas também não se permita se arrepender no futuro por não ter começado hoje.
É importante se perguntar: quem você gostaria de se tornar daqui a 10 anos?
Superestimamos o que podemos fazer em um ano e subestimamos o que podemos realizar em uma década.
Depende de nós, ou melhor, depende de você.
Você pode falhar? Claro!
Você vai fazer m#$%? 100%
Se você falhar, você vai se recuperar e dar um jeito de voltar pro jogo? Definitivamente.
Lembre-se: se você já tentou algo e não deu certo, não significa que nunca dará. O passado não determina o futuro, e as oportunidades para recomeçar estarão sempre disponíveis.
Em resumo:
Seja curioso e incansável à procura do que faz sentido para você. Cada um tem seu caminho, não tem certo e nem errado. Mas evite a mediocridade.
Aprenda com seus erros passados e deixe de ter mais arrependimentos futuros. O tempo está passando.
Coloque deadlines firmes para seus planos, só assim você lutará contra seu espírito procrastinador.
Evite a positividade tóxica, e pense sobre as tribos das quais você faz parte. Você se encaixa nisso ou se forçou a se encaixar por pertencimento e manutenção do status quo? Status Quê?
Siga sua intuição! E mãos à obra! Vai dar bom! Sempre dá! Confia!
Por hoje é só!
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Marcel - Status Quê?