SQ#07: O Sabático que Nunca Contei
Esta Newsletter é muito especial para mim. Uma história que sou muito grato e fico emocionado até hoje por ter acontecido comigo.
Eu nunca documentei isso como me proponho a fazer neste texto. Sabia que um dia chegaria este momento.
Comentei na Newsletter de número 2 sobre o período sabático que fiz em 2011, minhas motivações e contei a primeira parte da viagem, que foi o Caminho de Santiago de Compostela. Quero contar agora a parte que foi mais emocionante e marcante para mim nestes 160 dias que fiquei perambulando com uma mochila por ai.
E se você pensa em fazer um sabático algum dia, ao final deste texto pode ser que você saia mais confiante e motivado(a), sabendo que você, assim como eu, também pode fazer. E pode transformar sua vida, e colecionar histórias e vivências fantásticas.
Vou comentar também sobre as principais dúvidas que as pessoas me perguntam com muita frequência sobre o tema, e mostrarei algumas possibilidades de como se organizar para um momento como esse.
Momento de Descoberta do "Próximo Passo"
Era junho de 2011. Eu já estava desde Abril viajando, havia feito o Caminho de Santiago, caminhando por um mês os 800km do percurso, e depois disso eu fui aprimorar o meu espanhol vivendo em Salamanca por 2 meses.
Como disse algumas vezes, eu estava fazendo um exercício de estar no presente, sem planejar mais do que alguns dias a minha viagem. Deixei os cronogramas longos que sempre me acompanharam e, obviamente, me frustraram em algumas ocasiões - pois a vida no futuro não é exatamente o que planejamos.
Não temos, como ser humano, essa capacidade de prever todas as variáveis.
Eu queria fazer um trabalho voluntário. África, Índia, algum lugar assim. Por onde começo?
Google e mais alguns contatos de amigos, e conheci uma organização incrível chamada Ashoka.
Ashoka é uma organização internacional sem fins lucrativos que se dedica a encontrar e apoiar empreendedores sociais ao redor do mundo. A organização acredita na ideia do "Everyone a Changemaker", que é a visão de uma sociedade em que cada indivíduo tem a liberdade, a confiança e a habilidade para conduzir mudanças positivas (educação, meio ambiente, saúde, direitos humanos, etc). Vale conferir!
Encontrei um banco de microcrédito na Índia, inspirado na história do Grameen Bank - um banco feito por mulheres e para as mulheres cuja ideia central se baseia na teoria de que as mulheres, quando no domínio das finanças, investem muito mais na educação de seus filhos.
O Grameen Bank foi fundado em Bangladesh em 1983 por Muhammad Yunus, um economista e professor universitário. Yunus, motivado pelo desejo de ajudar os pobres que eram explorados por agiotas, desenvolveu um sistema de empréstimo de pequenas quantias de dinheiro, ou microcrédito, para aqueles que não tinham acesso ao crédito tradicional. A ideia central era permitir que os pobres, especialmente as mulheres, pudessem iniciar pequenos negócios e, assim, sair da pobreza. Yunus e o Grameen Bank receberam conjuntamente o Prêmio Nobel da Paz em 2006, em reconhecimento ao seu trabalho para "criar desenvolvimento econômico e social a partir de baixo" através do microcrédito.
Na Índia, havia o Mann Deshi Bank. Exatamente igual e inspirado no Grameen. Troquei emails com a fundadora e CEO Chetna Gala Sinha, cartas de recomendação, currículo, entrevistas… e meu terceiro capítulo do Sabático estava começando.
Partiu Índia
São muitas histórias até chegar em Mhaswad, uma cidade a 300km ao sudoeste de Mumbai, onde ficava o banco. Desde entrar no carro com desconhecidos na madrugada de Mumbai (uma São Paulo ainda maior e mais caótica e perigosa) e procurar onde conseguiria sacar dinheiro, entrar numa quebrada, acordar um cara dormindo em cima de uma mesa que me trocou alguns dólares por rúpias, até estar num carro por muitas horas com um cara que não conseguia se comunicar comigo, só mascava fumo e cuspia pela janela aos ventos, além de fazer coreografias que pareciam dança de Axé em todos os lugares para me livrar dos mosquitos da malária.
Alguns meios de transportes completamente lotados de indianos me espremendo, me olhando como se fosse um ET (talvez eu fosse), e consigo chegar em Mhaswad. Chão de terra e o ônibus parou. Desce o ET do ônibus e todos param o que estão fazendo para olhar. Alguns me tocavam. Eu e minhas malas no meio daquele lugar, medo, cansaço por mais de 24h de viagem acordado, e ao mesmo tempo aliviado que havia chegado (ou quase). “Preciso ir ao Mann Deshi Bank e tenho esse telefone aqui, posso ligar de algum lugar?". Um rapaz me disse algo e pediu para que eu o seguisse. Fomos até uma barraca de camelô daquelas feitas de metal e um plástico por cima. O cidadão arrancou um negócio amarelo do chão, montou um em cima do outro, ligou numa tomada e… “tá ai, pode ligar”. Enquanto eu discava os números que tinha, vários celulares apareciam na minha cara. Eles tiravam fotos do meu rosto estando atrás de mim, uma aglomeração em volta da “celebridade” que acabava de chegar lá. Pego um Rickshaw (ou Tuk Tuk), e chego ao Banco, finalmente. Ufa!
O Mann Deshi Bank
A ideia inicial era trabalhar em projetos de otimização para distribuição dos empréstimos, controle de pagamentos, e pensar em um plano de outras possíveis ajudas a estas simples mulheres empreendedoras.
Eu morava em uma casa com uma outra voluntária que encontrei lá. Emilia era Italiana, trabalhava no Banco Mundial em Washington e estava lá fazendo parte da sua graduação, uma espécie de matéria eletiva em que se faz um projeto social em algum país em desenvolvimento. Ainda bem que a encontrei! Não sei se seria capaz de morar na Índia sem algum latino por perto para poder me comunicar, falar do mundo ocidental um pouco, etc.
Morávamos em uma casa com um só cômodo. Um furo na parede saia água para tomar banho, e um buraco no chão que era para as necessidades. Papel higiênico? Lá não existe. Minha cama era de ferro, envolta com uma tela de proteção contra mosquitos da malária. Água da Pepsico comprada em uma vendinha para escovar os dentes todos os dias e não pegar nenhuma virose. Hospital mais próximo? Não sei até hoje o que faria se tivesse algum problema lá. É o famoso lugar de “onde o filho chora e a mãe não vê". Meus anjos da guarda fizeram horas extras.
Além do trabalho principal, comecei a dar aulas de inglês para alguns indianos dentro do próprio banco, e um dia um aluno descobriu que eu era brasileiro e… “você joga futebol?". Opa, jogo sim. “Você não quer ensinar as crianças aqui a jogar futebol?". Opa, só se for agora!!!! QUERO muito!
A Mais Incrível História da Minha Vida
O que eu preciso fazer então? “Amanhã às 7h da manhã você vai na frente do lago na rua principal, e um ônibus cheio de crianças vai passar e te pegar".
7:10h e nada. 7:20h e nenhum ônibus. Acho que vou embora. De repente, chega uma moto, para ao meu lado, o cara abre a viseira do capacete e diz: “Soccer?". Yes (imaginei que era sobre dar aula de futebol). Subo na moto, e buzina pra cá, buzina pra lá, desvia da vaca, do porco, das pessoas, dos carros e carroças, e chego num descampado enorme de terra e 180 crianças fazendo alguns esportes (exceto críquete que, se deixasse, roubava a cena de todos os outros esportes, e futebol). Era a fundação Mann Dashi Champions - que, através do esporte, desenvolvia as crianças para um mundo com mais oportunidades.
180 crianças correram em minha direção. Anunciaram o novo “treinador de futebol” que veio do Brasil. Mal sabiam do meu futebol mediano. Crianças me pegavam, me puxavam a camiseta, tentavam falar comigo. Uma festa!
A partir deste dia, todas as manhãs eu pegava minha bicicleta, andava 5km e chegava para o futebol. Arrumei uns cones, e inventei vários treinos. E ai rolava um rachão. Coisa simples: 50 para cada lado, uma disputa para que time eu ia jogar, e a bola rolava. Era um esquema tático interessante: não havia posicionamento, eram todos os 100 em direção a bola. E dale canelada! O Indiano realmente não tem habilidade alguma com as pernas.
Eram crianças muito puras, muito carentes, muito simples. Aquilo me energizava demais todas as manhãs antes de eu ir para o banco trabalhar. Comecei a me envolver com as crianças, tinha até meus preferidos lá.
Não é possível que não posso ajudá-los com alguma coisa a mais. Eles não tinham tênis para praticar esportes, andavam em sua maioria descalços e alguns com algum chinelo ou sandália bem surrados.
Tenho tantos amigos no Brasil que estariam dispostos a ajudar… já sei: vou contar a história das crianças e pedir dinheiro para comprar tênis para elas.
Não dormi aquela noite. Acordei no outro dia e chamei a Emilia. Vem cá, tive uma ideia: vou fazer um vídeo das crianças, contar a história delas, vou fazer um site e dai coloco todas as nossas informações lá. E vou inventar uma espécie de gamificação (uso esse termo hoje, mas na época era “fazer uma coisa engraçada para estimular as pessoas a doarem").
Be In Their Shoes
Em dois dias eu já tinha o nome do Projeto ("Be In Their Shoes"), o vídeo, o site, tudo definido e o seguinte esquema:
Eram quase 200 crianças
Se eu gastasse US$ 30 dólares para cada par de tênis, daria US$ 6.000 dólares
Dividi os US$ 6.000 em 4 partes iguais e defini desafios:
Se chegarmos em US$ 1.500 dólares, eu tiro uma foto com todas as crianças no ar pulando e dou chocolate para todo mundo
Se chegar em US$ 3.000 dólares, eu vou dançar a música Party Rock Anthem do LMFAO (era o hit do momento - no mundo ocidental) e dou suco de manga para as crianças
Atingindo US$ 4.500 dólares eu faço uma exibição estilo Bollywood (o famoso cinema Indiano) e dou caderno para eles irem para a escola
Se chegar aos US$ 6.000 os doadores escolhem a palhaçada que for, e eu farei!
A Emoção Começou
Soltei o vídeo contando a história das crianças numa quinta-feira. Naquela época as redes sociais não distribuíam o conteúdo como hoje, nem havia tanto alcance assim. Facebook era o melhor canal. E eu disparei email para todos os contatos que eu tinha da vida. Emilia traduziu para o Italiano e disparou para sua rede de contatos também.
Sábado atingimos US$ 1.500 dólares. Caraca!! Precisamos fazer o vídeo que prometemos então. Dia seguinte chego para o treino, faço minha aula, jogo o rachão, saio ileso com a canela somente um pouco escoriada, e saco a minha câmera do bolso (uma Sony Cybershot da era dos Incas). E digo: agora junta todo mundo aqui (com muita mímica e um indiano adulto que ajudava a traduzir para as crianças também, como era no dia a dia), vou contar e dai vamos todos pular, ok? One, two, three… juummmp! Mais uma vez. Agora outra. Pronto! Deu certo!
Opa, Problema!
Dai eu recebo um email do PayPal (que utilizei para captar a doação) na segunda feira:
“lavagem de dinheiro possivelmente detectada, seu dinheiro está bloqueado, e a única operação que você pode fazer é estornar os pagamentos".
Mais uma noite sem dormir, liga para amigos, lê artigo, fala com PayPal, e nada de solução. Que vergonha, fiz um baita barulho, me expus e não vou conseguir fazer o negócio.
Falei com a CEO do banco, Chetna, sobre o caso. E conseguimos uma solução. O banco recebia doações de uma entidade americana. Consegui triangular isso e mudei a doação para os EUA. Bingo! Estornei todos os doadores até aquele momento, baita vergonha… e uma grande surpresa: acho que fui convincente na explicação e a doação estornada de 1500 havia virado 1700 dólares. Doaram mais que a primeira vez, mesmo com o problema todo.
Mais alguns dias e, pam: US$ 3.000 dólares!!! Caramba!!! E vamos comprar suco de manga então e dançar conforme a música. “Eu posso te levar de moto para comprar”, disse um cara que ajudava o banco em algumas tarefas esporádicas. Beleza, aceito então. Só não sabia que íamos em três pessoas na moto. O cara ligou a moto, e mandou um “sobe ai". Mas e o outro cara, vai onde? “Atrás de você", vamos em três.
Situação complicada de descrever. Tipo a dança do Maxixe. Não sabia se encoxava o da frente para fugir da encoxada do de trás, ou sei lá o que. O da frente mascava fumo dirigindo, entre as buzinas, as barbeiragens e falta de sinal, desorganização do trânsito completa. Eis que o cara cospe o fumo mascado. Contra o vento. Eu quase derrubei todo mundo da moto num reflexo e susto que tomei. Situação difícil. Mais difícil que isso era levar 30 garrafas pet de suco de manga numa moto que já tinha 3 pessoas. Deu certo. Indian style!
Bora para o treino então, câmera no bolso, e sucos na moto. Acaba o treino e eu digo: agora preciso que dancem aqui comigo, de alguma forma. Não há música, mas precisamos imaginar. Já era uma parada patética, sem música ficava um pouco mais. Vamos lá, braço pra cima, braço para baixo, deita no chão, uma coreografia muito boa. Nota zero. E todo mundo feliz, tomando suco de manga sem entender nada desse pós-treino movimentado (mais uma vez). Não contei nada para as crianças, nem para os indianos adultos. E fiz a Emilia passar vergonha comigo, claro.
Mandei o vídeo e no final eu coloquei uma lista agradecendo nominalmente as pessoas que já haviam doado até aquele momento. Isso, de alguma forma, mexeu com quem ainda não havia doado. Gerou um sentimento de “quero estar nesta lista”. Dentro de 2 dias da divulgação do segundo desafio eu já tinha US$ 4.500 dólares de doação!!! Ca-ram-ba!!!!
Bora comprar alguma roupa então, porque Bollywood tem que ser levado a sério. E onde que acha uma loja naquele lugar? Enfim… comprei um monte de coisa lá, e o pai e o namorado da Emília haviam chegado da Itália para visitá-la. Fiz todos eles entrarem na roda também e dançarem no melhor estilo “latino-indiano”.
Eu precisava começar a comprar os tênis, porque até descobrir onde comprar, conseguir buscar, organizar a entrega para as crianças, ia ser um tempo que não tinha ideia. Achei uma Decathlon "ali perto" (padrões da Índia), cerca de 5h de carro. Sim, ali ao lado. Descobri que era muito mais barato um par de tênis e um par de meias. Comprei dezenas de coisas adicionais de muitos esportes: de kits completos de karatê, kit para baseball, bolas de todos os esportes (vôlei, basquete, futebol), redes, raquetes, muitos equipamentos - incluindo as caneleiras tão primordiais para aquela prática de futebol. Tinha coisa que eu nem sabia o que era, mas me recomendaram na loja, e eu torrei todo dinheiro, os US$ 5.035 dólares totais da doação. O vendedor ganhou uma boa comissão esse dia!
E, finalmente, cheguei um dia para o treino que foi diferente. Juntei todas as crianças num galpão que existia ao lado do campo, e contei a história toda com um telão que peguei do banco projetando os vídeos que havia feito naqueles pós-treinos esquisitos. Falei que havia muitas pessoas legais por ai que doaram muitos equipamentos, além dos tênis para eles. E ai veio a hora da chamada: um por um, pegava seu par de tênis e par de meias. Me arrepio de lembrar até hoje a felicidade daquelas crianças. Que êxtase e momento incrível!!
O primeiro-ministro do estado de Maharashtra ficou sabendo e queria vir para entregar os tênis. Comecei a ser abordado para dar entrevistas (!). Políticos locais quiseram tirar fotos doando tênis para as crianças (lamentável isso, ser humano igual aqui e lá). Foi tudo uma loucura. Loucura mesmo, de alucinar.
Meu último treino com eles foi uma parada surreal, que arrepio agora escrevendo e tenho as cenas bem claras na minha cabeça de quando cheguei no campão . Todos, sem exceções, TO-DOS, com tênis nos pés prontos para a canelada final!!! Que jogo foi aquele, senhoras e senhores!!!
Alguns Aprendizados Que Tive
Podemos sempre tirar as ideias do papel. Basta ação.
Muita gente quer ajudar, mas não tem tempo. Um amigo meu dizia sempre quando eu voltava de uns trabalhos voluntários no tempo de faculdade: "Por que você foi lá, não era só dar um cheque?". Tem gente que prefere ajudar com dinheiro, e isso vale também. Mas você pode viabilizar e juntar as duas pontas - quem precisa e quem quer doar.
Um tênis não significa nada. Mas a autoconfiança que traz e a felicidade que pode fazer na vida de uma criança pode, sim, mudar alguns rumos.
Somos privilegiados se estamos nesta rede social. Precisamos, de alguma forma, retribuir isso para o mundo. E dá para fazer.
O mundo é muito mais do que a bolha onde nos encontramos - com as pessoas que pensam igual, com os mesmos costumes, com a mesma cultura e muitas vezes com históricos parecidos com os nossos. Sair da bolha é um choque de realidade e te abre a cabeça de forma irreversível.
Estar no presente te abre tantas oportunidades simplesmente por estarmos atentos. Quando estamos no futuro, ansiosos, perdemos a chance de ver e fazer muitas coisas com significado.
Você só consegue enxergar algumas coisas se começar a fazê-las. Seria impossível eu planejar tudo isso que acabou acontecendo neste período em que fiquei viajando. Tudo aconteceu porque eu dei o primeiro passo e estava atento. E nem as minhas melhores expectativas passariam perto do que foi essa viagem. Chega de muito cronograma. Dê o primeiro passo.
Algumas Perguntas Que Me Fazem Com Frequência (e minhas respostas)
Como você decidiu fazer um Sabático? Na verdade eu passei por uma decepção profissional e peguei embalo para fazer isso. O que eu queria era me reencontrar, e me joguei sozinho em uma viagem, totalmente fora da minha zona de conforto através de uma viagem não convencional.
Por onde eu começo? Se você tem vontade de fazer, coloque isso no papel. Sem grandes planejamentos se você tiver a disponibilidade de tempo e algum dinheiro. Eu vejo isso como investimento. Impagável. O que você precisa é um primeiro passo: uma organização com seu trabalho para esta pausa e uma data definida. Visite o site da Ashoka, já vai ser um ótimo começo para suas ideias!
E como fez para se organizar para ir? Na época, como disse, eu fui demitido. Vendi meu carro, juntei algum dinheiro que tinha e defini o primeiro destino (Caminho de Santiago) e uma data. Comprei a passagem e fui me preparando até lá (leituras, reflexões, estudos).
E você teve algum "clique" sobre a vida em algum momento da viagem? Acho que o "clique" não é algo que você sente. É algo que acontece sem você perceber exatamente. Um paralelo que faço é o crescimento de uma criança: você não vê que ela cresce alguns milímetros todos os meses, mas de repente você analisa e a criança cresceu muito. Obviamente que alguns choques de realidade e algumas conversas com pessoas que você encontra e situações incríveis que acontecem te marcam e te mudam. Mas não busque um "clique mágico", isso não existe eu acho.
Você voltou com as respostas que buscava? Voltei com mais perguntas ainda. Mas voltei com muitas respostas. E como disse em outro texto recentemente, há respostas que ainda me chegam até hoje sobre este momento. Nós somos mutantes, metamorfoses ambulantes, e o que eu buscava e pensava há 10 anos já não é exatamente ao que penso e quero hoje. Mas os impactos de uma história vivida são perenes e te farão mudar sempre.
Quando você voltou, como decidiu empreender? Apareceu uma oportunidade na sua frente? Não acredito em oportunidade que aparece do além, uma ideia brilhante que surge no banho, um "clique" mágico durante uma meditação. Sou mais pragmático. Voltei, queria empreender, e fui estudar todas as possibilidades (de franquias até negócios menos tradicionais). Decidi, depois de muito estudo, levantamento de dados, abrir uma loja de Artigos Esportivos, online e offline. E só aconteceu porque eu agi. Tirei do papel e fiz acontecer. Ação. Ideia sem ação não serve para muita coisa. Aquela famosa frase do Thomas Edison: "A genialidade é 1% inspiração e 99% transpiração"
E depois na volta, como conseguir emprego tendo ficado fora do mercado por um tempo? Você não teve medo? Quando eu voltei, empreendi e depois quis voltar ao mercado corporativo. Fiquei muito inseguro. Acreditava que minhas experiências do mundo corporativo eram as únicas e mais importantes. Através da interpretação e feedbacks de praticamente todos os entrevistadores, descobri que o maior valor que viam em mim (e talvez eu mesmo não desse valor) era também sobre tudo que eu já havia feito fora do mundo corporativo (sabático, negócio próprio). Cada vez mais eu tive certeza do impacto que tudo isso me fez e como me transformou não somente em uma pessoa melhor, mas em um profissional muito melhor - com muito mais visão, mais maturidade, mais autoconfiança. Te garanto uma coisa: não vai te faltar oportunidade se você fizer uma pausa. Já fiz muitas, já fui e voltei para o mercado várias vezes. Confia.
Você pode fazer o que quiser. Seu limite é muito além do que você imagina. Não espere uma demissão para ser empurrado, negocie com sua empresa se for possível uma licença não remunerada (tem acontecido cada vez mais isso). Ou se foi demitido, aproveite o embalo e vá se procurar por ai.
Por hoje é só! Obrigado por ler até aqui! Espero que tenha se divertido com esta história toda. É a minha. Mas pode ser a sua.