SQ#18: Parapsicologia e a Experiência de Quase Morte
Vulnerabilidade, efemeridade da vida, morte, fé, razão, lições & mais.
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Tempo de Leitura 9 minutos
Bem-vindos à edição de número #18 da "Status Quê?”. Aqui, trago provocações e inspirações para te tirar do automático e te fazer (re)pensar as escolhas de vida. Toda semana. Sem Spam. Grátis.
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E bora então para o que interessa….
A edição de hoje é um relato pessoal (mais um talvez) de um momento de inflexão espiritual na minha vida, com dois principais objetivos:
Escrever sobre isso pela primeira vez e ter um download da minha cabeça
Refletirmos juntos aqui com uma história que pode te fazer pensar melhor
O ano era 1996 e eu tinha 13 anos. A cidade, Santa Rita do Passa Quatro no interior de SP. Éramos 25 mil habitantes - onde vivi dos meus 3 aos 17 anos.
Não sei como isso aconteceu, mas meus pais se inscreveram para fazer um curso/workshop de Parapsicologia de 3 dias. E levaram eu e minha irmã também.
Não sabia se isso era de comer ou de passar no cabelo (mas fui entender que poderia ser o que minha mente quisesse depois do curso). Um evento no único teatro da cidade (um auditório, na verdade), com umas 200 pessoas e ministrado pelo famoso padre Jorginho - um italiano que era o pároco da igreja Matriz de Santa Rita. Era especialista em parapsicologia. Relatou casos próprios de exorcismo, inclusive.
Minha vida tem um marco bem definido do antes e depois disso, juntamente com uma cirurgia em que quase passei dessa esfera pra alguma outra (ou para lugar nenhum, como vou explicar adiante).
Meu Contexto
Minha família, tradicional, principalmente na camada dos meus avós, tinha uma formação católica muito forte - 90% do Brasil na época. Eram “praticantes”, como diziam. Eu fico sempre na dúvida sobre o que é ser não-praticante. Sou maratonista não-praticante agora, por exemplo.
Eu estava naquela fase da escola em que estudava Martinho Lutero, a Reforma Protestante, a Contrarreforma. Comecei a questionar tudo (status Quo? Quê?)… e a entrar em conflito com a questão religiosa.
Fui batizado, fiz primeira comunhão e, quando estava(m) me encaminhando para a crisma - abandonei tudo.
Racional e cético, nesta época eu tentava achar algumas palavras para me definir. Ateu? Não, muito forte talvez. Agnóstico? Esse eu gostava mais talvez. Talvez eu fosse um herege.
O que é a Parapsicologia?
Imagine que você tenha um rádio. Normalmente, você usa esse rádio para sintonizar estações e ouvir música ou notícias. Mas imagine se, de repente, você pudesse captar conversas de outros lugares, ver imagens de eventos distantes ou até mesmo sentir o que outras pessoas estão sentindo, tudo através desse rádio. Bem, a parapsicologia é o estudo dessas “estações” incomuns que não compreendemos completamente. Ela investiga fenômenos que vão além das explicações normais da ciência, como telepatia (comunicação de mente para mente), clarividência (ver coisas distantes ou futuras) e outros fenômenos misteriosos - e usa muito da hipnose para alterar estados de consciência das pessoas e potencializar experiências parapsicológicas.
O curso - e a explicação pra TUDO na vida (e morte)!
No curso, aprendi sobre o poder da mente, desde hipnose até telepatia.
Um exemplo citado foi de uma mãe que, mesmo estando a centenas de quilômetros de distância de seu filho, sentiu um mal-estar no exato momento em que este sofreu um acidente e faleceu.
Naquele estágio da minha vida, tudo parecia ser explicado através da combinação de energia, física, matemática e a mente humana. Era como se esse conjunto fornecesse as respostas para tudo.
Numa cidade pequena, o eventual charlatanismo não funcionaria - porque a platéia toda se conhecia, e não havia como “combinar truques” ou alguma trapaça. Era tudo real. Pessoas que eu conhecia subiam no palco e faziam coisas bizarras - que você viu no Gugu ou Fantástico aos domingos, dependendo da sua idade, com o Padre Quevedo, ou QueMedo.
Uma amiga da minha mãe comeu cebola achando que era maçã. Uma outra, acordou da hipnose e não viu ninguém mais na platéia. Uma senhora ficava somente com a cabeça e os pés apoiados em duas cadeiras, dura como uma pedra (meu pai e um outro voluntário colocavam e tiravam a senhora como se fosse uma tábua rígida). Havia dezenas de provas em minha frente de que a psique humana era muito poderosa e criadora de realidades das mais variadas.
Minha cabeça pegava fogo de tanta coisa interessante, e eu não me distraia por nenhum segundo sequer. Parecia estar num show de mágicas.
Naquele momento, tudo que fugia do racional e tangível para mim, era simples e puro delírio da mente. - nada mais do que isso. Eu comecei a ficar mais racional ainda. Era isso. Tudo é coisa da nossa cabeça. Tudo. Se alguém viu algo diferente, pode investigar que é esquizofrenia.
Quase fui dessa para melhor (ou pior)
Febre. Dores. Vômito. Alguns dias depois deste curso, eu comecei a me sentir muito mal.
Fui no médico com minha mãe… “não é nada, toma água, antitérmico, essa virose vai passar”.
Naquela noite eu não conseguia dormir de tanto mal estar e dor abdominal. Fui parar num colchão no quarto dos meus pais. Eu gemia de dor. Meu pai chegou a perder a paciência comigo em algum momento, algumas horas antes de ter que levantar para trabalhar.
Amanheci (sem dormir) pior. Vamos pro médico de novo então. Dr Pizarro (com “P” mesmo, não “B”) não teve dúvida, apesar de não ter certeza alguma também: vamos ter que internar, ele está desidratado demais.
Mas o que esse menino tem? Não sabemos. Passaram-se mais horas. Febre de 40 graus. Eu tremia numa cama hospitalar de ferro, mal parafusada e instável que rangia na frequência do frio que eu sentia.
Entra a noite e só dúvidas, nada de certezas ou diagnósticos.
Vi meus pais bem preocupados e durante um dos meus tremores vi minha irmã com medo chorando ao lado da cama.
Naquela ocasião, uma Santa Casa em Santa Rita não tinha corpo clínico tão competente e nem infraestrutura para muita coisa. Era o que tinha só.
Meus pais conversaram na manhã seguinte e decidiram: vamos levá-lo para Ribeirão Preto - a 1h de Santa Rita, onde haveria uma infraestrutura de medicina adequada. Entre um antitérmico endovenoso e outro para segurar o tremor, meu pai foi pra casa pegar alguma troca de roupa, voltaria para o hospital e sei lá como me tiraria de lá. Acho que na época não haveria muito protocolo, controle ou bloqueio sobre isso.
Por volta de 7h da manhã o médico chegou.
Temos uma suspeita de diverticulite, uma inflamação no intestino grosso. Mas talvez possa ser uma apendicite. Vamos precisar abrir com urgência.
Não iria mais para Ribeirão. Não havia mais tempo. Eu só queria a anestesia nesta hora.
Uma faixa branca enrolada no braço esquerdo, um acesso a mais, uma seringa de “isso vai te deixar tranquilo”, e a maca começou a sair do quarto enquanto eu me despedia de minha mãe. O teto passava entre lustres e espaços brancos, ao som das rodinhas sem muito óleo da maca.
Lembro de mais um ato: vamos te colocar nesta mesa aqui (onde havia aquela luz redonda enorme e forte em cima, no centro cirúrgico que eu conhecia pela primeira vez).
Anestesia geral. Apagão.
- Meu pai, depois de mais de 10h aguardando que eu despertasse: “ele vai acordar que horas?”
- Enfermeiro: “jaja ele acorda…”
- Meu pai (algumas horas depois): “e aí? Tá tudo bem?”
- Enfermeiro: “jaja ele acorda…”
Eis que acordo com meu pai colocando a mão no meu peito e falando comigo. Acho que deve ter dado uma empurradinha, talvez um beliscão, pra me acordar.
Engasguei com uma espécie de chupeta enorme na boca que ia até minha garganta. Era por onde eu havia sido entubado. Sei lá se era normal me deixarem com aquilo até acordar. Mas era Santa Rita.
- “O que aconteceu?” - perguntei totalmente desorientado. Passei a mão na barriga e havia um grande curativo de fora a fora.
Meu pai me explicou que eu havia passado por uma cirurgia de apendicite, que foi grave, supurou (vazou) e havia risco de infecção no meu abdômen - e os médicos disseram que tiveram que tirar meu intestino para fora, lavar e esterilizar tudo por dentro.
Morrer é preto e sem som
Diferentemente de quando eu durmo, que tenho noção do tempo, esta minha experiência com a anestesia geral foi de que o tempo havia parado, assim como qualquer consciência. Não era um sono com sonhos, lembranças, sensação de tempo transcorrido.
Era um apagão sem som, sem tempo, sem pensamento, sem existência.
“Morrer deve ser assim então…” - conclui, com certeza de quem havia vivido uma espécie de morte momentânea. Passaram-se 12h desde que havia apagado, mas poderiam ter sido 12 segundos ou 12 anos. Acho que seria exatamente a mesma coisa.
Naquele momento eu comecei a me afastar de tudo que não era material. Eu havia concluído que morrer era virar um escuro insípido, inodoro, incolor. Viraremos nutriente para a terra e é somente e simplesmente isso. O resto é delírio e a mente misteriosa, inquieta e manipulável nossa.
Eu pensava, como um bom herege: religião é somente uma maneira de controlar o povo, para que não se matem e para que acreditem em algo que possa aliviar as dores da nossa existência. Além, claro, de ser um business (não quero entrar em polêmica, estou contando meus pensamentos somente).
Alguns dias de hospital, uma infeção a mais, uma necessidade de colocar um dreno na barriga, mas sobrevivi e aqui estou escrevendo (não do além, nem do “preto sem som”).
Espiritualidade
No decorrer dos anos, fui tendo experiências de vida e me reaproximando da espiritualidade, sem seguir nenhum dogma, credo, mas experimentando muitas coisas.
Espiritismo, umbanda, templos da igreja católica onde gosto de ir e me conectar com a energia do local (sou devoto de Nossa Senhora e vou com frequência para Aparecida do Norte ver uma missa ou simplesmente rezar e acender velas para, agradecer, pedir iluminação para os meus caminhos e de quem amo), fiz o caminho de Santiago de Compostela que tem um viés católico, vivi na Índia por 2 meses e me aproximei do induísmo, também gostei do budismo na Tailândia, faço Yoga e meditação toda semana, além de terapias energéticas, e outras coisas que nem sei se caberiam dentro da categoria espiritualidade - mas que seriam da categoria mais ampla “conectar-me e aprender sobre mim”. E mesmo sem saber o que há (se há algo) do outro lado, eu rezo todo dia, e frequentemente converso com meu avô Zezinho (falecido logo após eu chegar a Santiago e eu não poder me despedir exatamente) e sei que ele esta sempre por perto me iluminando e me protegendo.
O que aprendi com esta experiência
Por fim, o que levo de lição, e que é o objetivo desta newsletter aqui para refletirmos juntos, é o seguinte:
ninguém sabe o que tem do outro lado, mas sabemos que vamos pra la. Não somente a gente, mas quem amamos.
não acredito que precisamos definir UMA coisa certa, e muito menos pensar e agir como a galera da Faixa de Gaza… mas podemos estar abertos para tudo. Existe um ponto em comum com tudo - pelo menos para sua visão de vida, sempre.
Acreditar em algo fora do material, além de aliviar o sofrimento e perdas aqui, nos faz atrair tudo que precisamos - e continuar a viver melhor.
Se tem acaso ou se estava tudo escrito como prega o espiritismo, prefiro dizer que são pontos de vista somente - mas que podemos, sim, imaginar e criar o futuro que queremos.
Somos muito vulneráveis e a vida é um sopro que você vai entendendo ao longo dela com as perdas ao redor. E já que essa é uma certeza absoluta, que tal ficar com quem amamos o máximo possível (depois veja esta newsletter sobre o tempo que passamos com outras pessoas na vida), e fazer o árduo e dispersivo exercício de foco no presente, na jornada?
Não aceite o padrão que não é seu. O padrão da sociedade. O status Quo. Questione-o. Saia do automático. Da pra ser muito melhor a jornada se você estiver atento, presente e seguindo o SEU caminho.
Tenha fé! Seja lá no que for!
Por hoje é só! Obrigado pela leitura, e até semana que vem! E se gostou do conteúdo, deixe sua curtida e comentário! :)
Marcel | Status Quê?
PS: me ajuda a melhorar aqui? Você acha interessante uma variação de newsletter em vídeo com este mesmo conteúdo? Prefere ler ou assistir? Queria muito sua opinião! Me manda mensagem ou comenta aqui? Vai ajudar muito! ❤️
Só Sei Que Nada Sei
(curadoria de links para você saber cada vez menos)
How to Live an Asymmetric Life | Graham Weaver
(vídeo, 33min, em inglês com legenda do Youtube em português)
Weaver, professor de Stanford e fundador da Alpine Investors, compartilha os quatro processos para se viver uma vida assimétrica.
Duas Vidas | Fabien Toulmé
(livro, 272 páginas, português)
Fabien escreve uma história em forma de quadrinhos, super rápida e de bastante reflexão. Dois irmãos bem diferentes um do outro: um que tinha um trabalho que odiava como advogado, e outro que vivia viajando o mundo como médico. O primeiro é diagnosticado com um câncer e tem poucos meses de vida, e sai viajando com seu irmão em uma viagem de autoconhecimento muito bonita. Recomendo demais!
Controlling Your Dopamine For Motivation, Focus & Satisfaction | Andrew Huberman
(vídeo, 2h16min, em inglês com legenda do Youtube em português)
Andrew, neurocientista e professor de neurobiologia em Stanford, oferece uma "Masterclass de Dopamina", discutindo a importância deste químico produzido no cérebro. Ele detalha suas funções, picos, esgotamento e fornece 14 ferramentas para controlar sua liberação. Super útil para entender nossos comportamentos, principalmente relacionados ao vícios.
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